- Amor, não vá se
precipitar - pegue o táxi mais sujo - abençoe a noite das prostitutas - coma um
pastel na Avenida São João - e ouça, ouça Tom Waits, sim? - Me conta, qual a
graça no debruçar de favores!? Estou indo embora debruçada sobre as Flores do Mal....
Estou exausta amor, não ouço mais nossas canções. O irrecuperável rói a
lassidão das noites de esquecimento.... - Amor, as avenidas cantam outra
madrugada e os faróis, as estrelas se afastam de noites mal halitosas e você
insiste erótica. Muros sem saída. Dedos afastam seus lábios úmidos, outro cara,
outro beijo... - Ahh essas noites parecem melhores longe dos seus olhos,
estrelas e o passado num traçado de lembranças. Os ladrilhos estão
escorregadios e não afastam os tombos e pesadelos encostados... Outros ombros,
meus seios apontam um berço vizinho assombrando teu sexo... - .... Porque não
volta amor? Não vou te buscar na noite.... - Retrovisor revolve o tempo, e eu
freada na clara obrigação do silêncio para deixar partir o que já não estava aqui!
- Estamos no século dezenove amor - me perco no controle remoto - porque você
não volta ? Sou um paraíso perdido? Posso escrever sobre seu corpo? Também
posso te dar aquela criança acordando? - Pode escrever sobre essa coisa sonhada
que se arde como fogo vivendo como um nada! Pode falar sobre as crianças que
vivem vertiginosamente num ventre de abismo escancarado! - Depois das seis,
amor, há loucura nos olhos da entrega.... Depois das dez, amor, páginas de um
novo romance... E posso escrever aos anjos.... - Depois das dez me encontrará
em contos e orações curtas, nossos demônios e relíquias emocionais aprisionados
em páginas e folhas atrás da cama.... - A porta do apartamento se abre e, amor,
seu olhar triste, tristeza funesta e previsível me faz apertar outro botão do
controle.... (quem sabe discovery chanel...) Gostou, amor? Gozou, amor? Ou
tomou uma coca cola na rua? - Gozei amor, estou voltando porque atravessei
Paris e lá estava fervilhando. Atravessei a mim mesma e os lugares em que você
não era cenário!
- E voce não vai me
contar as paisagens masculinas, sei.... de todos os olhares mentais, lascivos
.... estremecidos..... Sei, amor. a madrugada parisiense, sei de seus olhos
perdidos.... (passo para o meu tempo, meus pensamentos e zapeio a tela da tv)
.... o chuveiro forte, mãos sagradas molhadas apoiadas em palmas cristais...as
mesmas que tocarei nas manhãs impossiveis .... chorando.... mas agora vai
amor, atravesse a janela de versos
catatonicos, doentios, - e secretos jardins deslizarão ante meus olhos
turbulentos - avenidas sensíveis - estados das coisas - semáforos intermitentes
-
( e a tv chiando)
Será uma fase ? Não,
não fugirão desta vez .... O seu rosto leve e triste, a voz que não esquecerei,
o olhar antes e depois - antigos sobre o balcão -
Vai amor, e me diz o
que sentiu perto destas estrelas -
acalme meu lisergico coração ..... Experimente
dentes, lábios dos limitados.... Nesta madrugada sem fim - Posso
perguntar alguma coisa a mais ?
CArloz Torres