domingo, 22 de junho de 2014

Há loucura nos olhos - Parte 1


- Amor, não vá se precipitar - pegue o táxi mais sujo - abençoe a noite das prostitutas - coma um pastel na Avenida São João - e ouça, ouça Tom Waits, sim? - Me conta, qual a graça no debruçar de favores!? Estou indo embora debruçada sobre as Flores do Mal.... Estou exausta amor, não ouço mais nossas canções. O irrecuperável rói a lassidão das noites de esquecimento.... - Amor, as avenidas cantam outra madrugada e os faróis, as estrelas se afastam de noites mal halitosas e você insiste erótica. Muros sem saída. Dedos afastam seus lábios úmidos, outro cara, outro beijo... - Ahh essas noites parecem melhores longe dos seus olhos, estrelas e o passado num traçado de lembranças. Os ladrilhos estão escorregadios e não afastam os tombos e pesadelos encostados... Outros ombros, meus seios apontam um berço vizinho assombrando teu sexo... - .... Porque não volta amor? Não vou te buscar na noite.... - Retrovisor revolve o tempo, e eu freada na clara obrigação do silêncio para deixar partir o que já não estava aqui! - Estamos no século dezenove amor - me perco no controle remoto - porque você não volta ? Sou um paraíso perdido? Posso escrever sobre seu corpo? Também posso te dar aquela criança acordando? - Pode escrever sobre essa coisa sonhada que se arde como fogo vivendo como um nada! Pode falar sobre as crianças que vivem vertiginosamente num ventre de abismo escancarado! - Depois das seis, amor, há loucura nos olhos da entrega.... Depois das dez, amor, páginas de um novo romance... E posso escrever aos anjos.... - Depois das dez me encontrará em contos e orações curtas, nossos demônios e relíquias emocionais aprisionados em páginas e folhas atrás da cama.... - A porta do apartamento se abre e, amor, seu olhar triste, tristeza funesta e previsível me faz apertar outro botão do controle.... (quem sabe discovery chanel...) Gostou, amor? Gozou, amor? Ou tomou uma coca cola na rua? - Gozei amor, estou voltando porque atravessei Paris e lá estava fervilhando. Atravessei a mim mesma e os lugares em que você não era cenário!
- E voce não vai me contar as paisagens masculinas, sei.... de todos os olhares mentais, lascivos .... estremecidos..... Sei, amor. a madrugada parisiense, sei de seus olhos perdidos.... (passo para o meu tempo, meus pensamentos e zapeio a tela da tv) .... o chuveiro forte, mãos sagradas molhadas apoiadas em palmas cristais...as mesmas que tocarei nas manhãs impossiveis .... chorando.... mas agora vai amor,  atravesse a janela de versos catatonicos, doentios, - e secretos jardins deslizarão ante meus olhos turbulentos - avenidas sensíveis - estados das coisas - semáforos intermitentes -
( e a tv chiando)
Será uma fase ? Não, não fugirão desta vez .... O seu rosto leve e triste, a voz que não esquecerei, o olhar antes e depois - antigos sobre o balcão -

Vai amor, e me diz o que sentiu  perto destas estrelas - acalme meu lisergico coração ..... Experimente  dentes, lábios dos limitados.... Nesta madrugada sem fim - Posso perguntar alguma coisa a mais ?


CArloz Torres

3 comentários:

  1. Querido Evandro! feliz Julho para você, regado de saúde e muito trabalho rsss.
    Beijo
    Nicinha

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  2. Belo texto,

    ao amor, aos versos doentios e tristes dos jardins secretos das avenidas sensíveis

    e dos poetas esquecidos e humilhados pela indiferença da época em que vivem!


    Agradeço sua presença e palavras, com amizade

    Maria Luísa "os7degraus"

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  3. Que texto lindo, com uma continuidade extenuante. Gostei de lê-lo, criei um ritmo só pra isso. Ficou massa e claro, delicado... Parabéns Carloz.

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